Barragens e seus impactos psicossociais
Sinopse
Esta obra reúne textos de pesquisadores de diversas áreas de conhecimento e atuação. O que há em comum entre eles é o debruçar-se sobre o universo das barragens. De diferentes ângulos revelam as distintas repercussões sobre as comunidades e populações afetadas por estas estruturas. São analisados os efeitos macro e microssociais. Simbólicos e concretos. Individuais e coletivos. A partir de cada uma dessas dimensões, são elaboradas ponderações atentas acerca desse fenômeno, o qual possui complexidade e singularidade capazes de gerar consequências imediatas e a longo prazo.
Na história do Brasil os empreendimentos que fazem uso de barragens, seja para viabilizar instalações hidrelétricas seja para conter os rejeitos oriundos do beneficiamento de minérios, não são recentes. Embora as referidas estruturas resguardem diferenças concernentes à natureza econômico-produtiva, possuem convergências em sua gênese social e política ao causar impactos nocivos que se estendem para os seres humanos e ao meio ambiente.
Para compreender isso, a cada capítulo que o/a leitor/a percorrer, encontrará a polifonia das vidas que clamam para serem ouvidas acerca das agruras vividas durante todo o processo de concepção e execução desses empreendimentos – desde o momento de seu planejamento, da instalação até o seu rompimento. Em qualquer uma dessas situações, a história de vida das comunidades e populações expostas ou atingidas pelos riscos dessas estruturas, é radicalmente transformada.
Um jogo de forças impetuoso passa a delimitar novas fronteiras territoriais e existenciais. Quem fica e quem sai. Quem ganha e quem perde. Os projetos de vida dão lugar ao projeto econômico neoliberal em solo brasileiro. Nesse percurso, não há negociações equânimes, tampouco processos decisórios e participativos igualitários entre as partes envolvidas.
Diante dessa realidade, entram em cena nesse livro os estudos voltados a esse tema, cumprindo não somente uma postura científica que expressa rigor acadêmico, mas também social e ético-política ao reverberar as vozes das pessoas atingidas por barragens e mobilizadas para lidar com seus efeitos devastadores. São populações ribeirinhas, comunidades e trabalhadores/as que tiveram sua atividade usurpada ou cessada pelas novas condições de existência; trabalhadores/as que sofreram com o acidente de trabalho ampliado; trabalhadores/as acionados para atuar com desastres efetivados e aqueles/as que atuam na ponta, dia a dia, nos equipamentos socioassistenciais para lidar com as mazelas de quem sofre/sofreu o processo de expulsão de seus modos de vida. Percebemos, nesse cenário que as diferentes barragens e etapas de sua concepção resguardam similaridades com a vivência da catástrofe acerca de seus desdobramentos que acometem histórias de crianças, jovens, adultos e velhos que se imiscuem à lama, poeira e concreto. Nesse percurso, as resistências e enfrentamentos junto aos movimentos sociais, organizações de base, lideranças locais e distintos coletivos são fundamentais para confrontar o desamparo e a morte – seja de si, seja da memória.
Ansiamos que a cada linha aqui registrada possamos enquanto sociedade descortinar que junto à história de barragens estão enredadas as histórias de pessoas e comunidades que tiveram seus modos de existência silenciados e desmantelados. Urge avançar para um debate público que reveja os rumos políticos, jurídicos e econômicos trilhados na construção de barragens no Brasil com a finalidade de promover com o modelo de progresso e desenvolvimento – prometidos por esses empreendimentos – a garantia da cidadania, da existência digna, humana e ambiental resguardadas. Para isso, é preciso questionar o modelo de Estado mínimo preconizado pelo capital financeiro internacionalizado, o qual não possui "moradia fixa”, mas onde ele se instala, mesmo que momentaneamente, não deixa de produzir efeitos concretos que alcançam corpos, sonhos e esperanças ao alterar paisagens, ecossistemas e territórios.
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