Dos “super-normaes” aos “superdotados”: duas faces do avesso da inclusão
Sinopse
A intenção de investir de forma diferenciada na educação de pessoas consideradas “super-normaes” (Kase, 1931) ou “superdotadas” (Novaes, 1979), à guisa de se obter um retorno coletivo para a sociedade atravessou todo o século XX tornando-se, no século XXI, uma política de Estado. No momento atual, inserida no contexto da Educação Especial, tal proposta é denominada Programa de Altas Habilidades/Superdotação na Educação Básica. Porém, pelo seu alcance e suas ressonâncias, o intento de privilegiar uma minoria considerada cognitivamente superior a qual, se imagina, traria um retorno coletivo para a sociedade, não seria uma aposta incerta? Esta proposta secular de promover pessoas consideradas “elites culturaes” (Pinto, 1933), “fermentos sociais” (Kehl, 1935) ou ainda “mentes extraordinárias” (Virgolim, 2007) com intenções de alcançar um progresso econômico e social para o país, esbarra em contradições sociais, não encontrando respaldo em uma sociedade assentada na lógica da apropriação individual, visto que a melhoria das condições de vida para todos é uma tarefa coletiva. Sendo assim, não há como requerer ou determinar esforços pessoais visando um progresso coletivo, justamente porque tais desígnios dependem de fatores construídos a partir da forma como a sociedade se organiza para produzir e reproduzir a vida em nível pessoal, social, cultural, econômico ou profissional. Outrossim, a oferta de um ensino de qualidade que possa promover oportunidades de desenvolvimento pleno a todos os estudantes deveria ser nossa mais profícua aposta e a principal bandeira de luta por uma sociedade mais justa e igualitária.
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