DESENVOLVIMENTO HUMANO E ADOLESCÊNCIA: CONTRIBUIÇÕES A PARTIR DA PSICOLOGIA HISTÓRICO-CULTURAL

A adolescência, para Lev Semionovitch Vigotski (1896-1934), constitui-se como um período fundamental do desenvolvimento humano, por ser o período em que o indivíduo apresenta, ou pode apresentar, um desenvolvimento pleno de seu psiquismo, proporcionado pela complexificação das Funções Psicológicas Superiores (FPS), regidas pela formação do pensamento por conceitos, imprescindível para a compreensão da realidade em suas múltiplas determinações e, consequentemente, para uma
participação consciente na sociedade. Essa compreensão da realidade, em seus meandros, entretanto, não é uma garantia do período, mas está aí como possibilidade, desde que haja mediações significativas nesse sentido, que a educação escolar seja intencionalmente dirigida ao desenvolvimento do psiquismo, a partir da compreensão de como se dá o desenvolvimento humano para que se atue de forma a impulsioná-lo. Todavia, essa não é uma tarefa simples ou fácil e, é nesse sentido, que o presente livro busca, a partir de pesquisadores envolvidos com temática tão importante, contribuir para a reflexão sobre esse período, para sua compreensão e para a discussão de possibilidades...
Trata-se de uma obra que reúne temas em destaque na temática da adolescência e do desenvolvimento humano, todos vinculados à perspectiva teórica da psicologia histórico-cultural, que tem como seus principais expoentes Lev Semionovitch Vigotski (1896-1934), Alexei Nikolaevich Leontiev (1903-1979) e Alexander Romanovich Luria (1902-1977).
A coletânea apresenta, inicialmente, uma reflexão de Thais Carolina Ferreira e Záira Fátima de Rezende Gonzalez Leal sobre A constituição da autovaloração dos adolescentes em tempos de mídias sociais, em que se discute sobre a necessidade de compreender como se desenvolve a autovaloração no período da adolescência e de que forma as transformações sociais da contemporaneidade, especialmente o fenômeno das redes sociais, pode influenciar a sua constituição. No segundo capítulo, Leda Leite Ferreira, Vítor de Lima Fantin e Flávia da Silva Ferreira Asbahr discutem A atividade de estudo na adolescência no ensino remoto emergencial: atribuição de sentido pessoal e desenvolvimento humano, em que apresentam os principais resultados de uma pesquisa, intitulada “Implicações do ensino remoto emergencial: sentido pessoal atribuído à atividade de estudo de alunos do ensino fundamental”, que teve como objetivo investigar a atribuição de sentido pessoal ao estudo nos anos finais do ensino fundamental durante o ensino remoto emergencial, ocorrido em função da Pandemia da Covid-19, nos anos de 2020 e 2021.
O terceiro capítulo, intitulado O “novo” ensino médio: reflexões sobre a cisão sentido pessoal e significado social da atividade de estudo na adolescência, de autoria de Camila Trindade, Camila Turati Pessoa e Nilza Sanches Tessaro Leonardo, discutem o contexto do ‘novo’ Ensino Médio e suas implicações, realizando uma reflexão acerca dos limites e desafios impostos ao desenvolvimento humano na adolescência, considerando a cisão entre sentido pessoal e significado social na atividade de estudo dos estudantes. No quarto capítulo, de autoria de Flávia Caroline Santos Cardoso Pereira e Záira Fátima de Rezende Gonzalez Leal, intitulado Adolescência no contexto das medidas socioeducativas: contribuições e proposições da psicologia histórico-cultural, as autoras discutem o impacto das medidas socioeducativas na vida dos adolescentes e as possibilidades de desenvolvimento ofertadas a eles no contexto dessas medidas, buscando refletir sobre de que maneira a Psicologia Histórico-Cultural pode contribuir para análise da adolescência no contexto das medidas socioeducativas. Rafaela França da Silva Della Santa e Luciane Pinho de Almeida, no quinto capítulo, intitulado Psicologia histórico-cultural e a relação entre adolescência, migração e escola, alicerçadas no método materialista histórico e dialético e a partir das categorias historicidade, totalidade e dialética, discutem a migração na contemporaneidade, enfocando a particularidade dos adolescentes migrantes internacionais e a garantia do direito à educação escolar, com objetivo de trazer alguma luz sobre esse fenômeno. O capítulo 6, intitulado A juventude no capitalismo dependente: contradições entre trabalho, desenvolvimento e alienação, de Kayo Rodrigo Vicente e Záira Fátima de Rezende Gonzalez Leal, visa apresentar reflexões acerca das contradições, dos nexos, das multideterminações e das possibilidades de desenvolvimento dos jovens brasileiros, discutindo a particularidade da trama social em que esse desenvolvimento ocorre, considerando as complexas determinações que influem sobre as relações materiais de produção no contexto brasileiro, que apresenta um desenvolvimento caracterizado como capitalismo dependente. O capítulo seguinte traz uma discussão sobre Adolescência e constituição da subjetividade: contextos sociais em debate, de autoria de Solange Pereira Marques Rossato, Eduarda Henrique, Nicoly Pelegrini Santos, Letícia Ereno Colombo e Gabriel Takashi Watanabe. Nesse capítulo, os autores objetivam discutir sobre a adolescência e suas transformações, que são sempre significadas na cultura. O período, caracterizado por uma intensa atividade psíquica, que em conexão com as transformações sociais, de maneira dialética, afetam os interesses do(a) adolescente e impactam significativamente em suas possibilidades de existência. Buscam debater sobre os aspectos que ajudam a constituir a subjetividade do adolescente, em um processo marcado pelo contexto social. Por fim, fechando a coletânea, o capítulo intitulado O processo de escolha profissional como expressão da consciência do real: como os adolescentes estão sendo formados?, traz uma discussão das autoras Daniella Fernanda Moreira Santos e Záira Fátima de Rezende Gonzalez Leal sobre a adolescência e o difícil momento da escolha profissional, que se constitui como um intrincado processo que afeta a vida do indivíduo como um todo, caracterizando a vida adulta. Essa escolha torna-se especialmente significativa quando ocorre na adolescência, pois essa fase do desenvolvimento é caracterizada por uma grande complexificação do psiquismo, por meio da qual o sujeito passa a entender elementos da realidade que não são acessíveis à infância, ampliando sua compreensão e atuação no mundo. Tendo sido apresentadas as diferentes temáticas que formam essa obra, convidamos você, leitor/leitora, a se juntar a nós na reflexão sobre a adolescência e sobre o desenvolvimento psíquico que se dá nesse período, permeado por diversos aspectos e
elementos.
Boa leitura!
Záira Fátima de Rezende Gonzalez Leal
Letícia Cavalieri Beiser de Melo
Julho de 2025.